Do que é feito um SUPER atleta?
- Fabio Seixas

- 3 de mar. de 2023
- 3 min de leitura

Dos meus 10 aos 15 anos eu jogava todo tipo de esporte. Ganhei torneios nacionais de tênis e fui chamado para a Seleção Brasileira de Basquete. Em determinado semestre da escola fui campeão, com a minha turma, em 4 modalidades diferentes. Todos diziam que eu tinha facilidade e talento para a coisa. Também era fato que quanto mais eu treinava, melhor me tornava, chegando a vencer de um tenista então reconhecido de 6×0/6×0, depois de 2 anos perdendo consecutivas partidas para ele.
Meus pais, infelizmente, apesar do apoio financeiro, não enxergaram que eu poderia ser um atleta profissional. Para eles, eu precisava ter uma profissão “séria”. Ali acabaram minhas chances, felizmente achei um caminho nas artes e cursei uma faculdade que me fez feliz. Mas isso é papo para outra hora, o que fica aqui é uma lição matemática: que mesmo com talento e trabalho, na vida de um possível atleta muitas vezes surgem condições adversas que fazem com que ele não tenha nem contato com o seu dom.
No livro “Sports Gene” o autor David Epstein vai fundo nas questões que tornam um ser humano um grande atleta. O livro procura entender a verdade por trás do tal “dom” e questiona se apenas ter talento é suficiente. Para chegar à conclusão, David explora com profundidade estudos variados ligados à genética e afirma que talento só se beneficia quando é aplicado com muita ralação e treino e, ainda assim, variáveis enormes entram em questão. Outros livros que abortam esse tema chegam a conclusões parecidas: a prática é mais importante que o dito dom.
Referências: Malcolm Gladwell, Outliers, Geoff Colvin’s Talent Is Overrated, Matthew Syed’s Bounce: The Myth of Talent and the Power of Practice e Daniel’s Coyle’s The Talent Code: Greatness Isn’t Born. It’s Grown, Born to Run do Christopher McDougall.
Para a minha felicidade, existem muitos esportes e possibilidades de competir em diferentes fases da vida. De pouco tempo pra cá redescobri meu corpo através da corrida, e larguei uma vida meio sedentária. Deixei de ser um corredor de fim de semana e hoje sou capaz de fazer 300 quilômetros por mês e correr uma maratona. Nunca fiz teste genético, mas tenho certeza que não tenho nenhum “super gene” dos quais o “Sports Gene” se refere, o que posso afirmar é que tenho lido muito sobre o assunto, e tenho corrido e treinado todo dia. Me conhecendo mais a fundo e entendendo melhor o esporte, tenho me divertido muito durante a prática e a cada dia que passa alcanço minhas metas e crio novas.
A busca por excelência no esporte, de fato, é um diferencial que os atletas têm em relação a outras profissões mais comuns. Nele não existe um dia em que o profissional não pense em ser o melhor e isso faz toda a diferença na relação entre pessoa e profissão. São poucos os ambientes e indústrias que a excelência é tão perseguida no dia a dia. Basta olhar ao seu redor no trabalho para ver que os níveis de motivação não são os melhores, e consequentemente os resultados também não aparecem. A Prof. Dr. Kátia Rubio da USP falou sobre isso nesse papo do CreativeMornings/São Paulo.
É verdade que a medicina moderna vem descobrindo os “super genes”, que ajudam determinadas pessoas a correrem por mais tempo, a saltarem mais alto, levantarem mais peso e etc. Isso de alguma forma tem aplicabilidade, e claro precisamos entender melhor o nosso corpo para saber como usar ele e as vezes até como não usar, como é o caso de pessoas que sofrem de condições cardíacas especificas (vide casos conhecidos de morte subita). Os estudos dos genes são importantes para abrir um debate moderno: será que em alguns anos vamos ter que separar as categorias olímpicas de acordo com condições genéticas? Porém, ainda não existem estudos que comprovem que a genética por si só é mais importante que muito treino.
Referência: Para quem se interessar os testes genéticos vem ficando cada vez mais acessíveis. Aqui a Mendelics é o primeiro laboratório do Brasil dedicado à análise genômica, com foco sobretudo no diagnóstico clínico.
Além de muito treino, genética, também existe a variável “condições de treino”, em que podemos incluir: lugar, equipamento, recuperação, treinador, equipe, ambiente e muito mais. Por exemplo, é mais fácil ver um jogador de futebol profissional renomado se você nasceu no Brasil, enquanto é mais comum você ser um atleta olímpico de ski se você nasceu no Canadá. De nada adiantaria ter a genética certa no lugar errado.
Portanto, com todas essas variáveis e verdades é impossível encontrar um atleta perfeito. O que é possível encontrar são atletas que treinam muito e têm a sorte de encontrar as condições corretas para subirem ao pódio.
E aí, vamos pra pista?
(imagem: shutterstock)
Fabio Seixas Empreendedor, agitador cultural, produtor criativo, diretor audiovisual, profissional de marketing e atleta. Atualmente em @jambucontent @festivalpath @educadeiras_ @culturacriativaoficial




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